Especialistas explicam porque investir em imóveis antes do 2º semestre.
A alta da Selic comunicada pelo Banco Central em 17 de março, passou a taxa básica de juros da economia de 2% para 2,75% ao ano. Usada por todo o mercado, a Selic influencia as taxas de juros praticadas em empréstimos e financiamentos, na rentabilidade de investimentos e por isso no avanço ou retração da economia.
Desde agosto de 2020, a Selic foi mantida em 2%, seu menor patamar histórico. Com o intuito de estimular o consumo e aquecer a economia do país, o Banco Central segurou a taxa em consecutivas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária).
A estratégia aqueceu o mercado imobiliário e abriu espaço para muitos alcançarem o sonho da casa própria. Não só pela baixa taxa de juros, mas também pela alta liquidez de crédito imobiliário gerada pelo aumento da captação da poupança, que em 2020 bateu o recorde de R$ 166,31 bilhões.
Por lei, 65% deste valor deve ser concedido em operações de crédito imobiliário, o que explica a liquidez e taxas favoráveis a quem buscou este tipo de financiamento.
“Outro fator que impulsionou o mercado imobiliário, foi a alternativa de realizar a portabilidade do financiamento de imóveis, migrando a dívida para outra instituição financeira com condições mais vantajosas” disse Marcello Romero, CEO da Bossa Nova Sotheby’s, imobiliária especializada em imóveis de alto padrão.
Para Felipe Sichel, estrategista-chefe do banco digital modalmais, o aumento da Selic para 2,75% não muda este cenário do mercado imobiliário. “Como a taxa Selic deve permanecer em patamar abaixo ao neutro, espera-se que o mercado permaneça aquecido. Um reordenamento do mercado imobiliário parece ser uma das consequências mais evidentes do “novo-normal” pós-pandemia”, analisa.
Com relação à concessão de crédito imobiliário, o especialista vê a alta com pouco impacto e menciona que a elevação da taxa de juros deve reduzir o incentivo em outros tipos de investimentos. “Percebemos que este ciclo de juros deve ser pequeno comparado com ciclos anteriores. Ao mesmo tempo, há expectativa de que uma elevação parcial da Selic ajude a retirar volatilidade do mercado, como por exemplo do mercado de câmbio. Assim, esperamos que o impacto sobre crédito imobiliário seja pequeno e que as taxas sigam atrativas”, pontua o estrategista.
Para o especialista no mercado imobiliário, Marcello Romero, num primeiro momento não há sinalização dos bancos em aumentar a taxa do crédito imobiliário, mas com a perspectiva da Selic chegar até o final do ano em 5,5%, existem chances das taxas do financiamento imobiliário começarem a subir a partir do segundo semestre. “Com as taxas subindo, o impacto direto na obtenção de crédito é inevitável, tanto pelo aumento da parcela, como no comprometimento da renda, fazendo com que o interessado nos financiamentos imobiliários opte por um valor menor ou aumentar sua renda”, informa Romero.
Por que não se deve esperar?
A inflação e a volatilidade do câmbio impediram que o Banco Central fizesse o reajuste da Selic em junho de forma gradual, estruturada e com a economia em recuperação. O aumento da taxa foi inevitável, mesmo gerando efeitos colaterais. Como dizem na linguagem popular, foi um remédio amargo, mas necessário.
A próxima reunião do Copom acontece em maio e um novo aumento da Selic é aguardado pelo mercado. “A nossa projeção centra-se na comunicação recente do Banco Central. Seja no documento divulgado após a última reunião do Copom em março, na ata da reunião ou no Relatório Trimestral de Inflação, o direcionamento foi evidente em torno da elevação de 0.75% na próxima reunião”, informa Felipe Sichel.
Para Sichel, os aumentos não reduzem a atratividade do investimento em imóveis.
“Um portfólio bem diversificado deve manter investimentos em ativos reais, dos quais imóveis são um dos maiores representantes”, explica.
Marcello Romero também avalia o momento como propício para o investimento em imóveis.
“Agora é um excelente momento para garantir uma carta de crédito e aproveitar esses juros historicamente baixos, mesmo que seja para investir nos próximos meses, já que ela é válida por 90 dias, e alguns bancos até esticam este prazo da validade do crédito. A chance de aumento para o próximo semestre é iminente, por isso para quem está em busca da casa própria ou de um imóvel para investir, temos um momento que vale a pena usar crédito imobiliário”, orienta.
Sobre a portabilidade de financiamento, Romero afirma que ainda será viável e vantajoso, pois os contratos anteriores foram feitos com taxas muito maiores. “Enquanto o crédito imobiliário não subir, ainda é uma boa oportunidade para trabalhar a portabilidade”, finaliza o especialista.
Questionado sobre sua perspectiva para 2021, Felipe Sichel concluiu. “O Brasil passou por um período de estímulo monetário sem precedentes com a taxa Selic em 2%. Como a economia é um processo cíclico, é razoável supor que eventualmente teríamos de voltar a subir a taxa de juros. É justamente isso que observamos no momento. O mercado imobiliário deve seguir aquecido, pois não vemos desequilíbrios, que justifiquem uma rápida contração ou necessidade de elevação muito acelerada da Selic. O maior risco permanece no campo macroeconômico: a condução para saída da pandemia e retomada da agenda de reformas que visem sustentabilidade fiscal são a nossa maior chance de recobrar o crescimento sustentável ao longo do tempo”.
Marcello Romero é fundador e CEO na Bossa Nova Sotheby´s International Realty, conta com mais de 26 anos de experiência no mercado imobiliário. Romero traz na sua bagagem a implementação no país da proposta de moradia do Minha Casa Minha Vida, que lhe conferiu maior amplitude aos seus entendimentos sobre urbanismo, a proeminentes lançamentos luxuosos.
Felipe Sichel é estrategista-chefe do banco digital modalmais. Doutorando em Economia pela FGV-SP, tem Mestrado em Economia Financeira pelo IDC de Israel e é Bacharel em economia pela UFRJ. Felipe ingressou no banco modalmais em 2016 e é responsável pela pesquisa e acompanhamento macroeconômico das principais economias globais. Acumulou experiência por instituições financeiras e centros de pesquisa internacionais, focando sua atuação no impacto da comunicação corporativa e de autoridades monetárias nos preços dos ativos e percepção de risco de companhias e governos.
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