Diante dos movimentos recentes da economia global, especialista da Bossa Nova Sotheby’s explica o que muda para quem quer investir em imóveis no exterior
Investir em imóveis nos Estados Unidos continua sendo uma das estratégias mais procuradas por brasileiros que desejam diversificar o patrimônio, proteger capital ou gerar renda em dólar. No entanto, o cenário econômico internacional impõe novos desafios para quem deseja começar ou ampliar esse tipo de investimento. A combinação de juros elevados, oscilações cambiais, possíveis mudanças políticas com o governo norte-americano e a burocracia envolvida exigem cautela, planejamento e apoio especializado.
Conversamos com Izi Carlo Grinberg, Gerente de Vendas da Bossa Nova Sotheby’s International Realty, que atua diretamente com investidores brasileiros interessados no mercado internacional. Em entrevista, ele traça um panorama das tendências atuais, os riscos e as oportunidades do setor e aponta os caminhos mais promissores para quem busca segurança, rentabilidade e visão de longo prazo nos negócios imobiliários fora do Brasil.
BNSIR: Como as tarifas de importação podem afetar o mercado imobiliário nos EUA?
Izi Carlo: Caso o cenário político mude, é possível que tarifas de importação mais altas afetem materiais como aço, alumínio e madeira. Isso encarece obras e reformas, pressionando o preço final dos imóveis. Se esses insumos forem tarifados, o custo da construção civil pode subir ainda mais, exigindo atenção de investidores e incorporadores.
Para o investidor brasileiro, principalmente nas regiões mais visadas como Flórida, Califórnia e Nova York, isso pode significar uma redução na margem de lucro, principalmente em projetos do zero. Ao mesmo tempo, pode aquecer o mercado de imóveis prontos ou comerciais já consolidados, que oferecem mais segurança diante das oscilações econômicas.
BNSIR: Juros altos nos EUA: o que isso muda para o investidor brasileiro?
IC: Os juros altos impactam diretamente o custo do financiamento. Quem está habituado a usar alavancagem, ou seja, financiar parte do imóvel, sente o peso dessa taxa. Isso vale tanto para investidores locais quanto estrangeiros.
No caso do brasileiro, há ainda o fator cambial. Quando os juros sobem nos EUA, o dólar tende a se valorizar frente ao real, o que encarece o investimento em moeda brasileira. Por isso, hoje, um bom planejamento precisa incluir estratégias de proteção cambial. É um movimento que exige cuidado, mas não inviabiliza o investimento, especialmente quando há foco no longo prazo.
BNSIR: Ainda vale a pena investir em imóveis nos Estados Unidos? E existem outros destinos promissores?
IC: Sem dúvida, vale a pena. Apesar das incertezas políticas, os EUA continuam sendo um dos mercados mais seguros e sólidos do mundo. A combinação de segurança jurídica, economia forte e liquidez atrai investidores de todos os perfis.
O sul do país, especialmente estados como Texas, Flórida e as Carolinas, continua com um crescimento populacional significativo e demanda constante por imóveis, o que garante boa rentabilidade.
Para quem quer diversificar, há boas opções fora dos EUA também. Portugal segue como um destino queridinho dos brasileiros, especialmente Lisboa e Porto. Espanha, com Madri e regiões de praia, têm ganhado mais atenção. Dubai é uma opção interessante para quem busca rentabilidade mais alta, mesmo assumindo um pouco mais de risco. E o Canadá, por sua estabilidade e abertura a estrangeiros, também aparece como uma alternativa consistente.
BNSIR: Quem são os brasileiros que mais se destacam investindo no exterior?
IC: Geralmente são empresários, profissionais liberais ou pessoas com histórico sólido de investimentos no Brasil que buscam proteger patrimônio e gerar renda em dólar. Muitos começam por imóveis residenciais para aluguel de curto prazo, como o Airbnb, ou por comerciais com contratos mais estáveis.
Os que obtêm mais sucesso têm algo em comum: eles se cercam de bons profissionais, como advogados, contadores e gestores locais, e encaram o investimento como uma construção de longo prazo. Além disso, sabem diversificar dentro do próprio mercado americano, escolhendo diferentes tipos de ativos e regiões.
BNSIR: Quais são os segmentos e cidades mais promissores para estrangeiros?
IC: Mesmo com as instabilidades políticas, alguns segmentos vêm se mostrando bastante resilientes. O setor de multifamily, voltado para aluguéis de longo prazo, segue com alta demanda, principalmente em cidades que recebem muitos novos moradores, seja por motivos econômicos, climáticos ou de qualidade de vida.
Outro segmento em expansão é o Built-to-Rent, que são casas construídas exclusivamente para aluguel. Esse modelo tem tido uma procura muito grande, especialmente em regiões com déficit habitacional ou dificuldade de crédito.
BNSIR: Quais os principais desafios e as oportunidades menos óbvias para brasileiros que querem investir nos EUA?
IC: Os desafios existem e não podem ser ignorados. Abrir uma empresa ou conta bancária como estrangeiro ainda é um processo burocrático. Além disso, é essencial fazer um bom planejamento tributário entre Brasil e EUA para evitar bitributação ou outras surpresas. E, claro, administrar um imóvel à distância exige uma estrutura profissional confiável.
Mas há também oportunidades escondidas que, com o olhar certo, podem ser muito vantajosas. Cidades menores, com potencial de valorização e ainda pouco exploradas por estrangeiros, oferecem entradas mais acessíveis. Outra frente são os imóveis com desconto, por exemplo, unidades vendidas com urgência ou impactadas pela alta de juros. E o mercado de foreclosure, de imóveis retomados por inadimplência, deve crescer nos próximos anos, abrindo novas janelas para quem busca comprar bem.
BNSIR: O que esperar dos próximos dois a cinco anos para quem investe em imóveis nos EUA?
IC: Se Trump for reeleito, é possível que vejamos uma agenda econômica com menos regulação e mais estímulos ao setor privado, o que pode beneficiar o mercado como um todo. Por outro lado, a incerteza no comércio global pode fortalecer a busca por ativos reais, como os imóveis, que oferecem estabilidade diante da volatilidade financeira.
A tendência para os próximos anos é de crescimento mais seletivo. O investidor deverá estar mais atento, buscando imóveis que gerem renda estável e estejam localizados em regiões com perspectiva de desenvolvimento contínuo. Outro movimento que deve ganhar força é o interesse por ativos com gestão facilitada, como imóveis administrados por empresas especializadas ou fundos imobiliários. Isso traz praticidade, segurança e permite escalar os investimentos sem aumentar a complexidade operacional.