Cenário segue marcado por juros altos, lançamentos estratégicos e consolidação de novas centralidades urbanas
O mercado imobiliário brasileiro chega até o segundo semestre de 2025 em um compasso de cautela e expectativa. As taxas de juros ainda pesam sobre o setor, tanto na hora de construir quanto de vender, mas os lançamentos de alto padrão continuam sendo estratégicos para manter o ritmo de negócios. Retrofits, arranha-céus e empreendimentos que dialogam com arte e lifestyle são algumas das apostas que seguem se consolidando em São Paulo e em outras capitais.
Se por um lado o investidor posterga decisões para manter capital em aplicações financeiras, por outro, empresas do setor adaptam seus fluxos de pagamento e estudam novos formatos para atrair compradores. Entre incertezas políticas e econômicas, o setor se movimenta com prudência, mas também enxerga oportunidades em tendências como multipropriedade, novas centralidades urbanas e o fortalecimento da sustentabilidade.
Para entender melhor esse cenário, conversamos com Fabiano Mazzei, jornalista com mais de 20 anos de experiência em redações brasileiras e que atualmente contribui com o Valor Econômico, onde acompanha de perto o mercado imobiliário de luxo.
BNSIR: Até o presente momento de 2025, quais sinais você percebe no mercado imobiliário brasileiro? Há mudanças concretas em relação ao ano passado ou o cenário segue mais de expectativas do que de transformações efetivas?
FM: Na comparação com o ano passado, eu acho que estamos em um compasso semelhante, com desempenho um pouco menos positivo. Existe um cenário que explica isso, mas, em linhas gerais, vemos expectativas positivas em relação ao próximo ano, com lançamentos importantes acontecendo.
Houve mudanças na região da Faria Lima, por exemplo, com novos projetos e retrofits no centro de São Paulo. Além disso, players de outros estados, como a Plaenge, estão entrando no mercado de alto padrão paulistano. Assim, vejo expectativas positivas, mas também algumas mudanças em curso que vêm se consolidando há algum tempo.
BNSIR: Na sua visão de jornalista que acompanha negócios e economia de perto, quais movimentos macro (política monetária, investimentos externos, comportamento dos players) estão ditando o ritmo do setor neste ano?
FM: A taxa de juros continua sendo um grande desafio. O custo do dinheiro está mais alto, o que atrapalha tanto a construção quanto a venda. No alto padrão, muitos compradores preferem manter seus recursos aplicados em investimentos que estão rendendo bem, adiando decisões de compra. Por isso, o produto precisa ser muito específico e atraente para convencê-los.
O mercado, por sua vez, tenta se adaptar com novos fluxos de pagamento, mas ainda enfrenta dificuldades. Apesar disso, o segmento de alto padrão permanece resiliente. Já em relação ao investimento externo, não temos visto o mesmo movimento dos anos anteriores, quando empresas de Portugal, Dubai, Miami e Nova York vinham ao Brasil apresentar seus empreendimentos. Esse fluxo diminuiu bastante.
Com a proximidade das eleições, o cenário também gera cautela. Dependendo do resultado, pode haver maior procura por imóveis no exterior. Além disso, fatores como a taxa de juros americana, o câmbio e as tarifas globais impactam diretamente o Brasil. O que se percebe é um compasso de espera, principalmente no primeiro semestre de 2025, até que haja maior clareza sobre o ambiente político e econômico.
BNSIR: Olhando para frente, que tendências ou pontos de atenção deveriam estar no radar de quem atua ou investe em imóveis, sejam empresas, investidores ou consumidores finais?
FM: Vejo algumas tendências se consolidando. A primeira é a influência da arte nos empreendimentos, que tem ganhado força em São Paulo e deve se espalhar pelo país. Outra é a verticalização extrema, com os arranha-céus que começaram em Balneário Camboriú chegando à capital paulista. Além disso, há o crescimento do segmento de segunda residência em multipropriedade, voltado para a classe média com maior nível de exigência.
O retrofit e a demolição de prédios antigos para dar lugar a novos empreendimentos devem acelerar, especialmente em áreas corporativas mais antigas. Também identifico a formação de novas centralidades urbanas, em bairros da zona norte e zona sul de São Paulo, que passam a concentrar serviços e oportunidades.
Para investidores, o essencial é identificar produtos com real liquidez, observando fundos imobiliários, a absorção de empreendimentos e os fenômenos fora do eixo Rio–São Paulo. Para consumidores finais, a recomendação é fugir de modismos e avaliar qual estilo de vida o imóvel pode proporcionar.
Já para as empresas, os pontos de atenção estão nas novas gerações, na sustentabilidade e no investimento em mão de obra e industrialização dos processos. A escassez de profissionais qualificados é um desafio e deve continuar sendo, por isso formar equipes e modernizar métodos de construção são estratégias fundamentais para o futuro do setor.