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Especial CASACOR 2024: Renata Guastelli comanda revolução dos espaços verdes

Paisagista estreia no evento trazendo inovação através de espaços verdes, conquistando reconhecimento nacional e internacional

Créditos: Daniela Prado | @danielaprado_eu

Renata Guastelli, referência no paisagismo brasileiro, está ganhando destaque no cenário internacional com suas abordagens inovadoras para integrar espaços verdes em ambientes urbanos e residenciais. Em entrevista para o Especial CASACOR 2024, Renata compartilhou detalhes de sua estreia na CASACOR 2024 e suas inspirações para o projeto “Conexão Natural”, um convite à conexão profunda com a natureza através do essencialismo.

Com 14 anos de experiência, Renata fala sobre os desafios e a responsabilidade de participar da maior mostra de arquitetura, design de interiores e paisagismo da América Latina, além de destacar a importância das práticas sustentáveis no paisagismo urbano e residencial. Ela também comenta sobre a crescente tendência biofílica e o impacto positivo que espaços verdes podem ter na qualidade de vida das pessoas, especialmente após a pandemia. Confira!

Como foi para você estrear no CASACOR 2024? Poderia nos contar um pouco sobre como surgiu a oportunidade e como foi a experiência de participar desse evento?

Estrear na CASACOR 2004 é a realização de um sonho. Como profissional no mercado há 14 anos, a CASACOR sempre foi a maior referência na América Latina nesse segmento, então fico muito orgulhosa do meu trabalho. Fui convidada, o que é mais um motivo de alegria, pois mostra o reconhecimento do meu trabalho. Essa oportunidade surgiu no ano passado, quando ganhei um prêmio na mostra do D&D Garden Design, onde participava há cinco anos. Foi lá que a Cris Barros me conheceu.

Uma vez que você assume essa oportunidade, não tem chance de erro. A responsabilidade é enorme, pois você está no mesmo nível que todos os profissionais convidados que também estão expondo seus trabalhos, então precisa dar o seu melhor. Foi um desafio para nós, porque o espaço em si era muito desafiador. Conecta sete ambientes de profissionais diferentes, então tivemos alguns desafios técnicos durante a obra para fazer com que minha equipe trabalhasse bem sem atrapalhar as obras vizinhas.

Foi uma obra relativamente rápida. Tivemos em média 60 dias para fazer tudo, mas acabamos fazendo em um período um pouco mais curto, esperando os outros ambientes evoluírem um pouco para não estragarem o nosso trabalho. O paisagismo é muito sensível e não podemos colocar as plantas no início da obra. Elas precisam ser colocadas quase no final, quando o ambiente está praticamente entregue para abertura, pois durante a obra há muita poeira e sujeira, o que é prejudicial às plantas. A logística e o cronograma da obra são desafiadores, e trabalhar de madrugada também é difícil. Mas com muita garra e responsabilidade, conseguimos entregar um ambiente de que ficamos super contentes: um ambiente bem fechado e com bastante vegetação.

Qual foi a inspiração por trás do projeto que você levou para o CASACOR 2024? Quais elementos você considerou essenciais para transmitir sua visão?

A minha inspiração foi o essencialismo, a necessidade de nos conectarmos com a natureza, algo inerente ao ser humano e que traz muitos benefícios. Os elementos essenciais que considerei para transmitir essa visão foram as cores, utilizando a paleta de marrons para focar o olhar dos visitantes na natureza, no verde, nos detalhes da vegetação, permitindo essa conexão com o natural.

Trabalhamos com duas poltronas, convidando as pessoas a se sentarem e se desconectarem do movimento, permitindo a conexão com o agora. O tema da CASACOR deste ano foi “De Presente, o Agora”. Através do essencialismo que quis propor, o convite era para que as pessoas conseguissem focar no presente, se desconectando de tudo e se conectando exatamente com o que estavam vivendo naquele momento. A natureza conduz esse contato.

Minha inspiração para o espaço foi a conexão com a natureza, daí o nome “Conexão Natural”. O objetivo era reduzir as interferências visuais que distraem a atenção da natureza. Por isso, meu ambiente tem uma cor única, o marrom, um tom de terra presente em diversos materiais: paredes, piso com textura marrom, jardineiras revestidas com cerâmica em tonalidade terrosa, vasos e mobiliário, todos em tons de marrom. Queria que as pessoas se desconectassem da sobrecarga de informação presente em outros ambientes maximalistas e buscassem o essencial.

No meu projeto, o essencialismo é a conexão com a natureza, representada pela intensidade vegetal. Temos várias plantas em quantidade significativa, em um jardim vertical e jardineiras orgânicas. Os vasos são fontes de água que promovem a renovação energética através do movimento da água.

O espaço tem 130 m² e utilizei jardins verticais do Jardim Freedom, uma solução inovadora no mercado. Trabalho com ele há dois anos e sei da revolução que representa. As jardineiras orgânicas, que desenhei especialmente para o local, permitem criar espaços ideais para a vegetação. O mobiliário foi escolhido para ser convidativo e proporcionar momentos de descanso.

Em sua opinião, quais são as principais práticas sustentáveis que devemos adotar no paisagismo urbano e residencial? Como você incorpora esses princípios em seus projetos?

Um princípio que temos muito forte é a utilização de pisos drenantes para que a água da chuva seja conduzida novamente para os lençóis freáticos, permitido pela permeabilidade do piso. O piso que promovemos no espaço tem uma taxa de permeabilidade de 97%, o que é muito alto. Quando você abre uma mangueira de água sobre ele, não acumula nem forma poças, pois a permeabilidade é muito rápida, fazendo com que a água volte ao solo e, em seguida, ao lençol freático. Essa prática é muito exercida em projetos residenciais e comerciais, como uma grande responsabilidade sustentável.

Outra questão importante é o uso de plantas nativas, para reduzir o uso de plantas invasoras, um grande problema no Brasil. Temos uma flora gigantesca de plantas nativas, mas ainda usamos muitas plantas exóticas. Eu também gosto de usar plantas exóticas, mas tentamos manter pelo menos 70% de plantas nativas e o restante exóticas. Nem sempre conseguimos, pois é importante considerar o desejo e gosto do cliente, mas dentro das possibilidades, introduzimos preferencialmente as nativas.

Um ponto super importante é a reutilização da água de chuva, captada por calhas e conduzida para uma cisterna, que redistribui essa água para a irrigação do jardim, garantindo sua saúde. Não conseguimos devolver essa água 100% ao solo, então a canalizamos para uma cisterna e reaproveitamos para irrigação.

A tendência biofílica tem ganhado muita força nos últimos anos. Como você enxerga essa busca crescente por ambientes que conectam as pessoas à natureza? Qual é o impacto dessa tendência na qualidade de vida dentro de casa?

Sim, a tendência biofílica é uma realidade muito forte. Acho que a pandemia fortaleceu muito isso. As pessoas, em casa, sentiram a necessidade de estar perto da natureza. A natureza reequilibra as energias, reconecta a pessoa com seu ser e conduz a uma estabilidade emocional e mental. A prova disso foi a pandemia. Naqueles anos, houve um grande aumento de pessoas interessadas em paisagismo, principalmente residencial, pois as pessoas estavam confinadas em casa.

Muitas pessoas que moravam em São Paulo se mudaram para o interior, buscando casas mais abertas com grandes jardins. A procura pelo paisagismo cresceu muito durante esses últimos quatro anos. Para quem não podia ter jardins abertos, surgiu a necessidade de ter plantas dentro de casa. Foi aí que começou a história das “urban jungles”, com muitos colecionadores de plantas surgindo nesse período. Isso é super positivo, pois gera uma conexão das pessoas com a natureza.

O impacto é muito positivo, restabelecendo essa conexão com o natural. Hoje, vivemos em um mundo extremamente conectado, com redes sociais e internet. Cuidar de uma planta não pode ser feito 100% através de um aplicativo. Você precisa se desconectar da vida digital e se conectar ao agora, dedicando atenção ao cuidado da planta, seja regando, podando ou limpando quando há pragas.

É quase como cuidar de um pet. Surgiu até o termo “novos pets” para as plantas, porque elas nos convidam a parar nossas conexões digitais e dar atenção a elas. Isso também acontece com cães, gatos e outros tipos de pets, proporcionando uma forma de atenção plena ao que estamos fazendo.

MCA Estúdio | @mca_estudio

Em um mundo cada vez mais acelerado, como você vê o papel do paisagismo em transformar uma casa em um verdadeiro lar? Como os espaços verdes contribuem para essa sensação de acolhimento e bem-estar?

É muito importante, porém ainda é infelizmente um pouco ignorado. Trabalhamos com vários escritórios de arquitetura e construção, e percebo que as pessoas ainda não têm uma preocupação tão grande em relação ao jardim. Trabalhando com paisagismo há 14 anos, presenciei várias clientes se emocionando quando a vegetação é inserida na obra. Isso aconteceu esta semana, inclusive. Fizemos o plantio de palmeiras enormes, e quando a cliente chegou, ela se emocionou muito ao vê-las.

Digo isso porque a natureza tem um poder que muitas vezes as pessoas desacreditam ou subestimam. Quando você tem contato com uma planta grande, desenvolvida, é uma experiência impactante. Estamos acostumados a plantar palmeiras de 60 anos, oliveiras de 200 a 300 anos. Há muita história envolvida, uma vida que atravessa gerações. São plantas que são herdadas, então há algo a mais ali, justamente por ser uma vida. Não estou falando de um objeto, como um abajur, um livro ou uma mesa. Estou falando de uma planta, com vida dentro dela, e esse impacto é muito forte nas pessoas. Nossa conexão natural com a natureza é muito intensa, porque é vida pulsando.

O poder do paisagismo é muito grande, e eu gostaria que ele fosse reconhecido pelos clientes e pelo mercado como a potência que ele entrega. A decoração, por si só, muitas vezes não consegue transmitir as mesmas emoções. As pessoas se emocionam ao ver plantas, relembram memórias afetivas da infância, de lugares que visitaram, de flores que receberam. Sempre existe alguma conexão emocional com a vegetação; não há quem não tenha nada. Às vezes, a pessoa não encontra aquela planta que remete a algo específico, mas a natureza tem esse poder de ativar todos os sentidos.

Quando você caminha sobre um piso de pedrinhas, por exemplo, o som ativa nossos sentidos. Quando a conexão é maior, pode até ativar um sexto sentido, proporcionando compreensões que às vezes fogem da nossa compreensão mais racional.

A pandemia trouxe muitas mudanças na forma como vivemos e nos relacionamos com nossos espaços. Como você acredita que esses eventos recentes influenciaram o interesse por projetos paisagísticos e a valorização dos espaços verdes?

A pandemia trouxe muitas mudanças. A necessidade de conexão com a natureza teve um impacto muito grande na vida das pessoas. A natureza, querendo ou não, era muito segura, pois você não pegava Covid-19 através das plantas. Esse contato seguro aproximou as pessoas da natureza, beneficiando bastante. Isso gerou um grande interesse por projetos paisagísticos e valorização dos espaços verdes.

A procura foi tão grande que, para você ter uma ideia, meu escritório dobrou de tamanho no primeiro ano da pandemia. Em poucos meses, a demanda foi tão alta que tivemos que mudar para um espaço físico maior e a equipe cresceu para conseguir atender essa demanda.

Por fim, o tema da CASADOR 2024 é “De Presente, o Agora”. Como você enxerga o futuro do design de paisagismo urbano e residencial? Quais tendências acredita que continuarão a crescer e quais novas abordagens podem surgir?

Eu enxergo o futuro do design de paisagismo como muito promissor. Muitas pessoas começaram a se interessar pelo tema depois da pandemia, e várias escolas de paisagismo surgiram online. Isso é interessante porque fomenta nosso mercado e incentiva as pessoas a estudarem e se especializarem em temas variados sobre paisagismo urbano e residencial.

O paisagismo urbano tem responsabilidades amplificadas, exigindo um atendimento mais abrangente. Já o residencial é mais particular, com demandas menores de uma família ou, dependendo do tamanho do jardim, de uma residência específica. Ambos, no entanto, compartilham premissas técnicas básicas e em comum que precisam ser consideradas no desenvolvimento de qualquer projeto.

É importante sempre pensar na permeabilidade do solo e na melhor forma de aproveitar a água da chuva, um bem natural abundante. Por termos essa água em grande quantidade, muitas vezes não pensamos em preservá-la adequadamente. Um ponto importante também é a importância de conduzir as águas pluviais para o solo, aumentando sua permeabilidade. Um exemplo recente é o ocorrido no Rio Grande do Sul; talvez, se o solo fosse mais permeável e houvesse um trabalho direcionado para a condução das águas de chuva, a tragédia pudesse ter sido mitigada.

As questões técnicas do paisagismo são essenciais para que possamos ter um futuro mais profissional e evoluído, não apenas voltado para questões estéticas. O paisagismo muitas vezes é considerado apenas como folhagens, árvores e vegetação. No entanto, temos uma ampla gama de responsabilidades, materiais e soluções que conseguimos promover, seja no paisagismo urbano ou residencial.

Além disso, devemos sempre refletir sobre a importância do uso adequado da vegetação nativas, porque o Brasil tem uma flora gigantesca nativa e que muitas vezes é deixada de lado. É preciso ter um olhar para fazer essa seleção das espécies nativas para fortalecer a nossa flora e, consequentemente nossa fauna, principalmente evitando de usar espécies invasoras, como as plantas que chegam de outros países e que acabam atrapalhando o desenvolvimento da nossa flora. Isso é um problema, porque elas acabam dominando de uma forma tão forte que mata a flora nativa.

E sobre novas abordagens que podem surgir, acredito que precisamos pensar no paisagismo como fundamental para melhorar a qualidade de vida das pessoas, seja no âmbito urbano ou no residencial. É essencial tratar o tema de forma técnica e aprofundada, e não apenas superficialmente, falando apenas de folhagens.

Eu vejo que o paisagismo abrange muitas áreas voltadas para soluções que precisamos promover, como irrigação, iluminação, drenagem do solo e a escolha de materiais para definir o resultado estético da obra. Sempre devemos considerar a questão técnica, que é muito importante, e não deixar o paisagismo ser visto simplesmente como estética.

Acredito que uma tendência é considerar o paisagismo como uma evolução técnica importante dentro do nosso mercado. É necessário ter um olhar focado em soluções que possam contribuir para a melhoria da convivência das pessoas em diferentes níveis, tanto no urbano quanto no residencial.

E até pensando na questão comercial, nos projetos comerciais, o paisagismo em hospitais, por exemplo, está supervalorizado atualmente. Já são conhecidos os benefícios que ele pode proporcionar, como a aceleração da recuperação de pacientes internados. Hoje, vemos que vários hospitais em São Paulo e ao redor do mundo têm paisagismos lindos e maravilhosos que, além de agradar visualmente, se preocupam em gerar bem-estar para os pacientes.

Espaços comuns, como shoppings, também têm adotado essa abordagem. Todos são pensados para reconectar as pessoas com o ambiente natural.

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