Descubra como as cidades ao redor do mundo vêm impulsionando cada vez mais a economia criativa
O teórico e urbanista americano Kevin Lynch afirmou em 1960 que “como um mundo artificial, a cidade deve ser assim no melhor sentido: feita pela arte, moldada para fins humanos”. Essa ideia, que defende que as cidades sejam planejadas artisticamente e voltadas para atender às necessidades de seus habitantes, se desdobrou de diferentes maneiras ao longo das décadas, mas uma verdade permanece: o investimento cultural é essencial para a vida urbana em todo o mundo.
Essa visão é reforçada por dados recentes que mostram a crescente relevância da cultura na sociedade. Segundo informações divulgadas em março de 2024 pelo National Endowment for the Arts e pelo Bureau of Economic Analysis (BEA), o impacto econômico das artes e indústrias culturais nos Estados Unidos alcançou um recorde em 2022, representando 4,3% do PIB, ou US$ 1,1 trilhão, na economia americana.
Cidades ao redor do mundo estão cada vez mais explorando o potencial das instituições culturais como um fator de valorização, principalmente no mercado imobiliário de luxo. Esse movimento conecta diretamente o planejamento urbano à cultura e cria áreas com alto apelo tanto para moradores quanto para investidores.
Em Nova York, o Lincoln Center for the Performing Arts e o High Line, parque construído em uma linha ferroviária desativada, exemplificam a integração bem-sucedida de cultura e urbanismo. A proximidade a essas instituições continua elevando a demanda por imóveis na região, com o preço por pé quadrado no High Line atingindo US$ 6.000 em 2024.
O impacto cultural também se reflete em Doha, onde o plano Qatar National Vision 2030 promove o desenvolvimento de museus e espaços públicos, como o Museu Nacional do Catar. Embora o mercado imobiliário tenha desacelerado após o impulso da Copa do Mundo, os valores de imóveis residenciais continuam crescendo, com alta de 26% entre 2022 e 2023.
Na Cidade do México, bairros como Polanco, Colonia Roma e La Condesa se beneficiam de sua proximidade com museus e galerias de arte, como o Museo Soumaya e o Museo Jumex. As ruas mais valorizadas de Polanco, como Campos Elíseos e Rubén Darío, apresentam preços de venda de até US$ 1.114 por pé quadrado em 2024, impulsionados por essas instituições.
Cingapura adota uma abordagem estratégica para unir cultura e sustentabilidade. Com espaços como a National Gallery Singapore e o famoso projeto Gardens by the Bay, a cidade é um exemplo de equilíbrio entre inovação urbana e patrimônio cultural. O mercado imobiliário da cidade tem se mantido estável, com preços de moradias privadas aumentando 1,5% no primeiro trimestre de 2024.
Já em Hong Kong, a presença de eventos como Art Basel e a expansão de galerias, reforçam o apelo cultural milenar da cidade. Esse desenvolvimento atrai investidores que buscam imóveis de luxo em áreas próximas a instituições artísticas e culturais.
No primeiro trimestre de 2024, as torres Harbourside, em West Kowloon, registraram uma venda recorde de mais de US$ 13,5 milhões, resultando em um valor superior a US$ 7.700 por pé quadrado. A média de transações no complexo de três torres, situado acima da Estação Kowloon, gira em torno de US$ 4.300 por pé quadrado. Além disso, a recente mudança na política fiscal de Hong Kong, implementada em fevereiro de 2024, eliminou três impostos de selo sobre vendas de propriedades, decisão que abriu oportunidades para investidores internacionais, incluindo colecionadores de arte e interessados em luxo, arte e estilo de vida, impulsionando ainda mais o mercado imobiliário da região.
Como pode ser observado por esses espaços, há uma relação constante entre as cidades e seus habitantes, com ambos se influenciando mutuamente. Essa reciprocidade pode atingir um potencial mais dinâmico quando o público tem acesso fácil a instituições culturais, que acabam por se integrar ao cotidiano da comunidade. Isso representa, de fato, viver em sintonia com a arte.
