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Cultivado na China, o novo vinho de prestígio de LVMH chega ao mercado

BY  MARK ELLWOOD | 29 AGO

Em uma área rural aos pés do Himalaia, no extremo norte da província de Yunnan, no Sudoeste da China, o francês Maxence Dulou controla um feudo ímpar: retalhos de vinícolas precariamente unidas em inclinação acentuada ao lado de pequenos vilarejos. O clima varia tão drasticamente que Dulou teve que abrir fendas em mais de 300 partes diferentes no solo, sendo que cada uma é cuidada individualmente. Colheita, poda, irrigação e mondadura são personalizadas em cada lote, e o trabalho é feito por agricultores locais que tratam as vinhas artesanalmente. Em Yunnan, cada acre requer 1.400 horas de trabalho por ano, cerca de quatro vezes mais que o padrão dos melhores Bordéus ou Borgonhas. “Se você quisesse fazer isso na França, as pessoas diriam: ‘você é louco’”, diz Dulou. “Mas na China há pessoas para este trabalho, pessoas que entendem as plantas”.

O resultado deste cultivo tão meticuloso é o Ao Yun, um novo vinho com o qual Dulou espera revolucionar a percepção dos vinhos chineses entre os enófilos. Uma mistura de 90% Carbernet Sauvignon e 10% Carbernet Franc. O Ao Yun é cultivado em altitudes de 8.500 pés – que lhe confere o nome, que significa “flutuar sobre as nuvens” – e é produzido em quantidades extremamente limitadas: apenas 24.000 garrafas estão disponíveis no mundo todo.

Embora esteja claramente no comando desta ambiciosa empreitada, Dulou não criou o Ao Yun sozinho: desde o princípio, a marca de luxo LVMH assinou o projeto dirigido por Jean-Guillaume Prats, chefe da divisão de vinhos. Vários anos atrás, Prats enxergou paralelos muito claros entre Yunnan e as mais refinadas regiões produtoras de vinhos. “Ela é como Bordéus em termos de padrões climáticos, similar aos remotos vilarejos espanhóis, onde as pessoas têm se dedicado à agricultura ao longo de muitas gerações” apontou Prats, acrescentando: “Sua vegetação extraordinária lembra o Vale do Uco, na Argentina, e a luz e céus azuis se assemelham a Stellenbosch, na África do Sul”.

Se você quisesse fazer isso na França, as pessoas diriam: ‘você é louco’. MAXENCE DULOU – vinicultor

E foi de fato na África do Sul que Jean Prats conheceu e se impressionou com o bordalês Maxence Dulou, que, na época, trabalhava em uma das vinícolas do país. Ele tinha experiência, adquirida na França, e habilidade para transmiti-la em um novo continente. Era a pessoa perfeita para a tarefa quando Prats, depois de avaliar diversos locais no Reino Médio da China, assinou um contrato de 50 anos nesta área deslumbrante de Yunnan. Dulou comprometeu-se com a tarefa de longo prazo de liderar o projeto da LVMH na China e mudou de continente mais uma vez, junto com a esposa chilena e seus dois filhos pequenos.

Já existiam vinhas em cultivo na parte central de Yunnan, trazidas por um missionário francês no final do século XIX, mas a produção era de baixa escala e entravada desde a Revolução Cultural. Dulou apaixonou-se instantaneamente por esta região inusitada – e não apenas porque vinhas mais antigas como essas permitiriam que a produção se iniciasse muito mais rapidamente do que se fosse necessário começar do zero. “Os vilarejos daqui – Adong, Xidang, Sinong e Shuori – são divididos entre nogueiras, milharais, plantações de cevada e vinícolas” diz ele. A agricultura não havia se alterado nos últimos 100 anos e o objetivo era manter esta tradição. A chance de cuidar das vinhas artesanalmente era imperdível, assim como a oportunidade de compor um vinho de maneira meticulosa, usando uvas de produções pequenas e discretas: com os quatro vilarejos em altitudes distintas, seus climas e níveis de luz solar variam de forma extrema, permitindo uma ampla gama de nuances. Embora estas possibilidades viessem acompanhadas por desafios logísticos óbvios, Dulou não se desencorajou – muito pelo contrário.


O primeiro e maior obstáculo foi a localidade remota da vinícola, a um dia cansativo de viagem pelas montanhas da capital de Yunnan, Kunming. Dulou reconheceu rapidamente que a operação do Ao Yun deveria ser autossuficiente: se um equipamento quebrasse, por exemplo, ele e sua equipe teriam que consertá-lo sozinhos, em vez de esperar duas semanas ou mais até que um técnico conseguisse chegar lá. Outra dificuldade residia nas constantes quedas de energia elétrica, que deixaria vários processos, como o engarrafamento, em risco de parar. Depois de muitos incidentes, Dulou instalou um gerador de energia de apoio e tirou o fator energia de muitos outros processos; por exemplo, o desengaçe é feito manualmente, evitando possíveis contratempos mecânicos.

Os extremos climáticos apresentaram outro desafio. Os vales são tão íngremes que contavam com poucas horas de luz solar no meio do verão. Por causa disto, a colheita das uvas é feita no final de outubro, cerca de 160 dias após a floração, ao invés dos típicos 120 dias, como em Bordéus. Mas o clima aqui também surpreende positivamente: o ar seco e fino mantém pestes e doenças, como a podridão cinzenta e míldio, bem longe, permitindo o cultivo de forma orgânica.

A vinificação em altitudes como esta também foi algo inovador. Dulou manipulou o processo como um cientista maluco, explorando como os baixos níveis de oxigênio impactavam a fermentação, maceração e extração. Por fim, a adega personalizada do Ao Yun foi colocada no mais alto dos vilarejos: Adong, a cerca de 8.500 pés. Abrigada em um edifício redondo, com paredes de terra, pretende se fundir perfeitamente a arquitetura local.

 

O Ao Yun não é o único vinho premium original da China. Chandon, outro subsidiário da LVMH, produz um vinho espumante em estilo champanhe na região norte de Ningxia. Muitos anos atrás, o conglomerado italiano Illya abocanhou uma parcela significativa de Changyu, a vinícola mais antiga do país. Desde então, ajuda o produtor a aprimorar suas instalações e a qualidade. O resultado disso foi o Wine City – uma espécie de parque temático para enófilos em Yantai – avaliado em U$900 milhões e pertencente a Changyu, que depende de maquinário italiano para a produção e engarrafamento.

É como bordéus em termos de padrões climáticos e similar aos remotos vilarejos espanhóis, onde as pessoas têm se dedicado à agricultura por muitas gerações. JEAN-GUILLAUME PRATS – CEO da divisão de vinhos da LVMH

Mas este conhecimento do mundo antigo aplicado aos vinicultores novos e já existentes, realmente fará com que amantes de vinhos em todo o mundo queiram provar seus Cabernets e champanhes? Talvez o Ao Yun comece a responder essa questão. O especialista em vinhos da Sotheby’s, Nicholas Jackson, acredita que sim. “Na minha opinião, este é o primeiro grande vinho chinês. Em termos de estilo, muitas pessoas disseram que é como o Bordéus, mas eu não enxergo desta forma” disse Nicholas. “Eu acho que ele tem aroma e nuance de sabor únicos, um frescor e característica salina que cria equilíbrio, e uma nota de ervas locais que vem da inclusão de 10% Carbernet Franc. Ele irá se manter? Não vejo porque não, dada a qualidade desta primeira safra”. Conforme o esperado, Jean Prats da LVMH concorda: “Permita-me sonhar: eu gostaria que este vinho se tornasse um Penfolds Grange” diz ele, referindo-se ao famoso vinho australiano. “Um vinho icônico do Novo Mundo considerado algo único, com pouquíssimos homólogos – um parâmetro de referência que possui uma carga mística”. É um objetivo grande, mas que Dulou pode sim atingir. Afinal de contas, a região que ele escolheu foi considerada por muito tempo como a sede do mítico Shangri-La.

 

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