É raro ter uma coleção privada que permita mostrar o panorama da arte de um país, e a Coleção Simon, mesmo longe de ser completa, inclui obras de 37 artistas belgas jamais vistos por aqui, além de apresentar uma seleção rica em movimentos da história da arte, do final do século XIX a meados do século XX, justificando o subtítulo “Do Impressionismo ao Abstracionismo”.
Françoise e Heinrich Simon começaram a coleção nos anos 1950, elegeram só a arte belga e iniciaram pela abstração, estilo em voga na época. A mostra é didática, com textos explicativos e dividida em cinco seções, com 69 obras.
Aqui, só me dedico a Vida e Luz, a primeira seção, porque quando o espectador entra naquela sala e olha as obras dos artistas que incorporaram o impressionismo e o pontilhismo franceses, deve se perguntar como foi o contato e a troca entre as pesquisas estéticas e óticas que os pintores franceses estavam se dedicando e os artistas belgas.
A fundação de um grupo, Les XX, (1884-1893), foi fundamental para o trânsito daquelas imagens. Composto não só por Octave Maus (1856-1919), advogado, escritor e crítico de arte como por pintores tais Theo Van Rysselbergue (1862-1926) e Georges Lemmen (1865–1916), dentre outros.
Theo Van Rysselberghe, Vue de Veere, 1906/Hugo Maertens, Bruges
Theo Van Rysselbergue estava em Paris, em 1886, por ocasião da oitava e última exposição dos impressionistas, quando viu a tela de Georges Seurat (1859-1891) Uma Tarde de Domingo na Ilha de Grande Jatte, tida como marco do “pontilhismo”. Um ano depois o artista belga convidou Seurat a participar da exposição do grupo Les XX.
Van Gogh, enviou telas para este grupo a convite de Maus. Van Gogh, que começou sua carreira de pintor na Bélgica, dez anos mais tarde, em 1890, vendeu sua única tela, na mostra dos Les XX, em Bruxelas. Quem adquiriu foi uma jovem pintora e colecionadora belga, Anna Boch, que comprou por 400 francos a obra la Vigne Rouge 1888, (Vinha Vermelha), hoje no Pushkin Museum, Moscow.
Emile Claus, La Moissonneuse, 1905/Hugo Maertens, Bruges
Em 1904, Emile Claus (1849-1924), rompe com o movimento impressionista convencional e com Georges Morren e Adrien-Joseph Heymans fundam outro grupo, o grupo Vie et Lumière, Vida e Luz. Nele reúnem mais de trinta pintores que buscam “la lumière des Flandres”, as cenas cotidianas e a vida rural. Eram os chamados “luministas” belgas, levando adiante a pesquisa em torno da luz, dos temas simples e da total liberdade de interpretação da realidade.
Serviço:
100 Anos de Arte Belga – Do Impressionismo ao Abstracionismo.
Centro Cultural Fiesp. Avenida Paulista, 1.313. Tel: 3146-7000.
3ª a sáb., 10h às 22h. Dom., 10h às 20h.
Grátis. Até 10/6.
Elisabeth Leone – Prof. Dra Comunicação e Semiótica
@elisabethleone
Foto de destaque: Théo Van Rysselberghe, Portrait de Claire Demolder, 1902/Hugo Maertens, Bruges