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Cícero Dias: um “selvagem esplendidamente civilizado”

A exposição reúne 40 obras na primeira grande retrospectiva do modernista pernambucano, em uma galeria desde a década de 1980. Além das aquarelas, é revelada ao público, três décadas após a sua criação, a Suíte Pernambucana, série inédita de litografias criadas em 1983, em Paris. A curadoria é de Waldir Simões.

O pintor nasceu no Engenho de Jundiá, Pernambuco, em 1907, mudou-se para o Rio de Janeiro na pré-adolescência para concluir os estudos no Colégio São Bento. Ingressou na Faculdade de Arquitetura em 1925, mas não terminou o curso, pois não gostava de matemática.

A revelação como artista aconteceu após uma exposição de aquarelas em 1928, na Policlínica, no Rio de Janeiro. Na época, a intelectualidade carioca e modernista, prestigiou a mostra marcada por traços surrealistas. O espaço abrigava um congresso internacional de psicanálise e a “loucura” de Cícero foi enfatizada. Sua obra instintiva causava estranhamento até mesmo nos modernistas, que tinham influências europeias.

Cícero Dias, Moça no Espelho, 92×73 cm, óleo sobre tela, década de 1950.

Em 1937, foi morar em Paris e na Europa produziu grande parte da sua obra  sem jamais abdicar os valores mais profundos da nossa cultura. Ele retornou ao Recife  e conheceu Gilberto Freyre. O talento de Cícero era reconhecido, mas, como suas obras não tinham classificações, causavam sentimentos dualistas de admiração e desconforto. “Eu não fazia construção nenhuma, meus desenhos eram muito à vontade. Aquilo espantava os pintores como o Di, Tarsila e Segall. Creio que os meus desenhos perturbavam um pouco aqueles sistemas rígidos que eles traziam da Europa”, declarou o próprio artista.

Na opinião do crítico Antonio Bento, sua obra relaciona-se ao surrealismo e também a um imaginário fantástico nordestino, em que mitos e fábulas estão presentes nas manifestações artísticas e na literatura de cordel. Além disso, é Bento que também afirma ser Cícero Dias o verdadeiro pioneiro do movimento construtivista no Brasil, pois em 1946, na capital francesa começou a pintar telas rigorosamente geométricas. Portanto, autor dos primeiros painéis de arte abstrata da América Latina, realizados em Recife em 1948, na sede da Secretaria da Fazenda do Estado de Pernambuco.

Cícero Dias, Galo ou Abacaxi, 100×80 cm , década de 1940.

Artista reconhecido desde 1950, passa a ser tema de exposições importantes, transita livremente, entre a abstração e a figuração. Em 1981, criou um painel figurativo com a história de Frei Caneca, em Pernambuco e, em 1991, fez um mural abstrato para o metrô de São Paulo, na estação Brigadeiro. Finalmente em 1999, desenhou a Rosa dos Ventos da Praça do Marco Zero, em Recife.  Faleceu em sua residência em Paris, em 2003, cercado por sua esposa Raymonde, sua filha Sylvia e seus dois netos.

 

Serviço:  ”Cícero Dias”

Local: Galeria Simões de Assis. Rua Sarandi 113 – A, Jardins – SP.

Abertura: 09/06, das 11h às 15h

Período de visitação: 09/06 a 18/08

Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 10h às 19h. Sábado das 10h às 15h. Fecha aos domingos e feriados.

Telefone: (11) 3062-8980

simoesdeassis.com.br/

 

Foto de destaque: Cícero Dias, Amizade, 32,5×47,5 cm, aquarela sobre papel, 1929.

 

Elisabeth Leone – Prof. Dra Comunicação e Semiótica
@elisabethleone

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