Ao ser convidada pelo babalorixá Pai Balbino de Paula para documentar a Cerimônia Águas de Oxalá e as Festas do Calendário religioso do Terreiro, a fotógrafa Andrea Fiamenghi compôs um relato visual da história dos descendentes africanos no Brasil; os orixás em danças rápidas, no balanço de suas roupas, em suas manifestações estéticas, culturais e simbólicas.
O registro das Águas de Oxalá, ritual anual de purificação e renovação, considerado um rito de passagem, fim e começo de um novo tempo, tem como referência a água, ciclo de uma nova vida, e é realizado durante o mês de outubro. Para Andrea, “num resumo diria que os Orixás me aproximam da força da vida, e fotografá-los me faz estar viva e cheia de Axé”. Este projeto conta com cerca de quinze mil imagens em sua documentação onde se registram cenas que só podem ser documentadas com permissão dos Orixás e autorização do babalorixá, o que vem sendo feito, com intervalos, desde 2003, no candomblé Ilê Opó Aganju, no Alto da Praiana, onde as imagens nos deixam ver desde as cerimônias, associada às cenas ritualísticas, às festas, e, sem que esteja representada nesta mostra, imagens da natureza, unindo os movimentos dos corpos aos de folhas e flores, propiciando uma nova leitura, através do poético ao do documental.
A fotógrafa acredita que sua arte representa um objeto de comunicação com o mundo, uma conexão com os espectadores, no sentido de buscar a mobilização para o inesperado, para o poético, para uma “realidade da fantasia”, não algo meramente estético. “Quero que minha fotografia seja o inesperado, o subjetivo, o não óbvio, a surpresa de enxergar em outros paramentos. Desconstruir uma fotografia lógica. A possibilidade de conseguir abstrair do mundo prático e ir para um mundo sensível, sem muitas explicações, onde as coisas falem por si só. Fotografar para mim é como recurso que utilizo ou para documentar algo importante ou para mobilizar o outro com a minha maneira de olhar o mundo. Descobri através da minha fotografia que as pessoas enxergam o mundo de formas completamente diferentes. Como cada um de nós enxerga? Através da sua sensibilidade e repertório de vida. Uma série de componentes genéticos, históricos, ancestrais, culturais. A fotografia possibilita mostrar a minha forma sensível de ver o mundo, as pessoas”, conclui Andrea Fiamenghi.
Andréa Fiamenghi nasceu em São Paulo. Vive na Bahia desde os quatro anos. Assim, bem baiana, através da paixão pela fotografia encanta-se com a obra de Pierre Verger, e deste encontro surge toda uma influência que converge inicialmente em procurar retratar as ruas da Bahia, desenvolver pesquisas e criar registros visuais fidedignos homenageando o povo que a acolheu com o coração.
Instagram: @andreafiamenghifotos
Curadoria de conteúdo: Silvia Balady / silvia@balady.com.br / @ssbalady