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Uma cidade conta sua história, à medida que caminhamos por ela, se revela não apenas com suas edificações, que olhamos de baixo para cima, mas ecoa com a profundidade do passado. Assim acontece com todo o Vale do Anhangabaú e o centro histórico de São Paulo: um dia foi território indígena, com seus ritos e mitos já enterrados, e no outro, deu lugar a novos símbolos.
Por décadas, o então conhecido Edifício Altino Arantes, antigo BANESPA, exerceu fascínio como um símbolo de hegemonia financeira. O projeto original sofreu inúmeras alterações, durante os longos anos da obra, pois a construtora desejava que o edifício ficasse o mais semelhante possível ao Empire State Building, em Nova York.
Inaugurado em 1947, com 161,22 metros de altura, 35 andares, 14 elevadores, 900 degraus e 1.119 janelas, o edifício foi considerado, nos anos 40, a maior construção de concreto armado do mundo. Em 2000, o banco Santander adquiriu o Banespa, mantendo a visita ao mirante até 2015, quando o prédio foi fechado para reforma. Em 2014, a construção foi tombada pelo Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo.
Reformado, o edifício foi inaugurado em 25/01/2018, como a mais nova atração de São Paulo, um centro de empreendedorismo, cultura e lazer: o Farol Santander. Feliz escolha para rebatizar o imóvel, pois “farol” remete a guia, símbolo de esperança, proteção, segurança material e psicológica.
As atrações do Farol Santander ocupam 18 andares dos 35 existentes, mas vou levá-los apenas a cinco deles: o 4º, 22º, 23º, 25º e 26º. No 4º, uma exposição permanente de Vik Muniz, fotógrafo paulistano que reside em New York, desde 1983. Com sua peculiar forma na criação e ou recriação de imagens, Vik aproveitou 10 toneladas de material reciclado da própria reforma para as montagens. Na sala ao lado da instalação, há um filme que mostra todo o processo de construção para obter estes resultados.
Vik Muniz, Vista 360º, 2017. Crédito: divulgação.
Com relação às exposições temporárias, a proposta é sempre convidar um artista brasileiro e outro internacional, com duração de 100 dias. O fio condutor é ser uma “arte imersiva”, com o propósito de sensibilizar e provocar reflexões. No 22º andar, a instalação de Laura Vinci, Diurna, é de uma delicadeza ímpar para tocar no assunto da relação homem/ natureza, do extermínio de animais e matas. A instalação inspira silêncio e contemplação, sombras de árvores são projetadas nas paredes, que compartilham o espaço com as folhas de latão banhadas a ouro e jazem inertes.
Laura Vinci, Diurna. Credito: divulgação.
Laura Vinci, Diurna. Credito: divulgação.
No andar acima, a situação se inverte! Pela primeira vez no Brasil uma instalação do coletivo russo TUNDRA, O Dia que Saímos do Campo (The Day We Left Field). É uma paisagem noturna e vertiginosa. O observador que penetra naquele ambiente dirige todo seu corpo para o teto, local em geral negligenciado pelo nosso olhar. De lá pende um “jardim invertido”, construído com imagens digitalizadas, sem esquecer de incluir as imagens sonoras.
Coletivo TUNDRA, O Dia que Saímos do Campo (det. Instalação). Crédito: divulgação.
O 25º andar é um Loft (400m) para hospedagem de até 5 pessoas ou eventos para até 50. O projeto foi assinado pelo escritório de arquitetura franco-brasileiro Triptyque e as reservas podem ser feitas pelo Airbnb.
Loft Farol Santander. Crédito: divulgação.
No 26º, o lugar mais disputado! O Mirante! Olhar de cima para baixo esta paisagem urbana provoca um tal encantamento que por instantes esquecemos os desafios lá embaixo enfrentados. Ainda sob efeito deste mergulho no universo simbólico, o da imaginação, concordo com James Hillman quando afirma que uma cidade tem alma e que é possível restaurá-la se “restauramos a cidade em nossos corações individuais”. Longa vida ao Farol!
Elisabeth Leone – Prof. Dra Comunicação e Semiótica
@elisabethleone
Elisabeth Leone é curadora e professora, mestra e doutora em Comunicação e Semiótica PUC/SP.
Curso Livre: Arte Contemporânea e as Exposições em São Paulo.
Duração: 4 meses (16 encontros).
Período: 5 de março a 25 de junho.
Horário: segundas-feiras, das 18h às 19h30.
Vagas limitadas
E-mail: eleone@lisproducoes.com.br
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Uma cidade conta sua história, à medida que caminhamos por ela, se revela não apenas com suas edificações, que olhamos de baixo para cima, mas ecoa com a profundidade do passado. Assim acontece com todo o Vale do Anhangabaú e o centro histórico de São Paulo: um dia foi território indígena, com seus ritos e mitos já enterrados, e no outro, deu lugar a novos símbolos.
Por décadas, o então conhecido Edifício Altino Arantes, antigo BANESPA, exerceu fascínio como um símbolo de hegemonia financeira. O projeto original sofreu inúmeras alterações, durante os longos anos da obra, pois a construtora desejava que o edifício ficasse o mais semelhante possível ao Empire State Building, em Nova York.
Inaugurado em 1947, com 161,22 metros de altura, 35 andares, 14 elevadores, 900 degraus e 1.119 janelas, o edifício foi considerado, nos anos 40, a maior construção de concreto armado do mundo. Em 2000, o banco Santander adquiriu o Banespa, mantendo a visita ao mirante até 2015, quando o prédio foi fechado para reforma. Em 2014, a construção foi tombada pelo Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo.
Reformado, o edifício foi inaugurado em 25/01/2018, como a mais nova atração de São Paulo, um centro de empreendedorismo, cultura e lazer: o Farol Santander. Feliz escolha para rebatizar o imóvel, pois “farol” remete a guia, símbolo de esperança, proteção, segurança material e psicológica.
As atrações do Farol Santander ocupam 18 andares dos 35 existentes, mas vou levá-los apenas a cinco deles: o 4º, 22º, 23º, 25º e 26º. No 4º, uma exposição permanente de Vik Muniz, fotógrafo paulistano que reside em New York, desde 1983. Com sua peculiar forma na criação e ou recriação de imagens, Vik aproveitou 10 toneladas de material reciclado da própria reforma para as montagens. Na sala ao lado da instalação, há um filme que mostra todo o processo de construção para obter estes resultados.
Vik Muniz, Vista 360º, 2017. Crédito: divulgação.
Com relação às exposições temporárias, a proposta é sempre convidar um artista brasileiro e outro internacional, com duração de 100 dias. O fio condutor é ser uma “arte imersiva”, com o propósito de sensibilizar e provocar reflexões. No 22º andar, a instalação de Laura Vinci, Diurna, é de uma delicadeza ímpar para tocar no assunto da relação homem/ natureza, do extermínio de animais e matas. A instalação inspira silêncio e contemplação, sombras de árvores são projetadas nas paredes, que compartilham o espaço com as folhas de latão banhadas a ouro e jazem inertes.
Laura Vinci, Diurna. Credito: divulgação.
Laura Vinci, Diurna. Credito: divulgação.
No andar acima, a situação se inverte! Pela primeira vez no Brasil uma instalação do coletivo russo TUNDRA, O Dia que Saímos do Campo (The Day We Left Field). É uma paisagem noturna e vertiginosa. O observador que penetra naquele ambiente dirige todo seu corpo para o teto, local em geral negligenciado pelo nosso olhar. De lá pende um “jardim invertido”, construído com imagens digitalizadas, sem esquecer de incluir as imagens sonoras.
Coletivo TUNDRA, O Dia que Saímos do Campo (det. Instalação). Crédito: divulgação.
O 25º andar é um Loft (400m) para hospedagem de até 5 pessoas ou eventos para até 50. O projeto foi assinado pelo escritório de arquitetura franco-brasileiro Triptyque e as reservas podem ser feitas pelo Airbnb.
Loft Farol Santander. Crédito: divulgação.
Loft Farol Santander. Crédito: divulgação.
Loft Farol Santander. Crédito: divulgação.
Loft Farol Santander. Crédito: divulgação.
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