Ricardo Miyada
Copyright de todas as obras: © Le Parc, Julio/ AUTVIS, Brasil, 2017.
Em meados do século passado, enquanto russos e americanos construíam uma cortina de ferro entre Ocidente e Oriente, Julio Le Parc propunha uma arte internacional acessível a todos para reconciliar a ciência, técnica e sociedade.
Ele nasceu na Argentina, em 1928, e, desde 1958, reside e trabalha na França. Sua obra imensa e multiforme pode ser vista na retrospectiva Julio Le Parc: Da Forma à Ação, no Instituto Tomie Ohtake, e na mostra 9+3+ RV, na galeria Nara Roesler, ambas em São Paulo.
Prepare-se porque você vai:
1- Exercitar sua livre interpretação dos trabalhos. Não se preocupe em ter algum repertório sobre história da arte, conceitos estéticos ou referências históricas para curtir. O próprio artista propõe esse desprendimento para que o espectador participe ativamente de sua obra, entre em contato com seu corpo e seus sentidos;
Crédito fotográfico: Ricardo Miyada
Copyright de todas as obras: © Le Parc, Julio/ AUTVIS, Brasil, 2017.
2- Ficar perplexo com obras de efeitos óticos. Ele é um dos maiores representantes da Op Art. O termo op refere-se a “optical” e foi cunhado nos Estados Unidos, por volta de 1964. Isso se aplica àquelas obras bi e tridimensionais que exploram e tiram proveito da falibilidade do olho humano. Le Parc utiliza a ambiguidade e a desorientação óticas ao usar ritmos sincopados e padrões geométricos em formas que se multiplicam;
3- Ouvir uma sinfonia de cores. Há harmonias em preto, branco e cinza, as não cores que soam mais graves. Ao mesmo tempo, há um espetáculo de composições cromáticas, pois Le Parc elege catorze cores do prisma e as aplica de diferentes formas, o que resulta em ritmos e vibrações pulsantes. La Longue Marche, de 1974, por exemplo, são dez telas de 2x2m que compõem um “longo caminho”, sinuoso e multicolorido, metáfora de sua vida pessoal e artística. A Maison Hermès escolheu estes padrões para o famoso foulard en soie (lenço de seda) e a linha foi batizada Variations autour de La Longue Marche (Variações em torno do Longo Caminho);
4- Ficar desorientado. Le Parc é o grande mestre da Arte Cinética, palavra que deriva do termo grego kinesis, movimento. Assim como a op art, esta corrente trabalha com a percepção visual do observador. Portanto, há obras que se movimentam pela força do ar, outras utilizam motores elétricos, há obras estáticas que produzem seu efeito cinético pelo movimento do espectador e as que merecem um motivo especial: a luz;
5- Encantar-se com os efeitos de luz, sombra e movimento. A luz perpassa toda sua obra e as instalações que utilizam as projeções nas salas escuras, levam o espectador a perder a “noção de “espaço”, a fim de lhe proporcionar a descoberta de novos espaços, diferentes paisagens efêmeras que se formam, continuamente, num tempo também indeterminado;
6- Refletir sobre novos materiais e novas propostas plásticas. Le Parc é co-fundador do coletivo G.R.A.V. (Groupe de Recherche d’ Art Visuel / Grupo de Pesquisa de Arte Visual, Paris/1960-68) que pesquisou e compartilhou os resultados, como se aprecia na mostra. A proposta estética do G.R.A.V. foi a de criar uma situação inteiramente nova, na qual a obra de arte se tornaria uma “proposta plástica”, representando uma pesquisa aberta, democrática;
7- Convidar filhos, netos e amigos. O espectador pode se tornar duplamente ativo: entrar em contato direto com a obra e participar da atividade dos outros espectadores. Proibido é não participar!
Le Parc tem 90 anos e diz que sempre se distanciou do conceito de uma obra de arte estável, única e definitiva. Muito coerente com toda sua pesquisa e com a própria vida!
Espero que curtam muito e completem este texto com tantas outras razões para não perder esta exposição!
Elisabeth Leone – Prof Dra Comunicação e Semiótica
@elisabethleone
Julio Le Parc: Da Forma à Ação Instituto Tomie Ohtake.
Até 25/02. Terça a domingo, 11h-20h. Entrada gratuita.
Galeria Nara Roesler: 9+3 + RV.
Até 03/02.