Em entrevista exclusiva, o paisagista Daniel Nunes compartilha sua visão sobre como criar jardins inovadores que transcendem a beleza das flores, ressaltando a importância das folhagens e práticas sustentáveis na primavera
Na primavera, quando a natureza se renova e o ar se enche de fragrâncias e cores, muitas vezes esquecemos que as flores não são as únicas protagonistas.
Em entrevista ao Blog da Bossa Nova, o paisagista Daniel Nunes nos convida a explorar um universo mais amplo, onde texturas e formas de folhagens desempenham papéis igualmente essenciais na composição de paisagens. Em sua visão, o paisagismo vai além da estética: é uma prática que deve harmonizar a beleza visual com a sustentabilidade e a conexão com a natureza.
Confira!
A primavera é muitas vezes associada a flores desabrochando, mas há plantas que têm um impacto visual mais forte por suas folhas ou formas. Como você trabalha com texturas e folhagens na primavera para criar paisagens inovadoras, sem depender exclusivamente das flores?
O impacto das floradas de determinadas espécies é sempre importante, mas o que propomos em nossos projetos é um equilíbrio entre as floradas e as folhagens, para que haja uma harmonia no efeito visual. Não queremos que o jardim fique com excesso de cor ou de flores. Nosso objetivo é oferecer esse equilíbrio entre floradas, folhagens e texturas, direcionando o olhar tanto pelas flores quanto pelas texturas de forma equilibrada.
Muitas vezes associamos flores à primavera, mas há plantas ou elementos não-florais que, na sua visão, podem representar essa estação de forma surpreendente? Quais são os “subestimados” da primavera?
A primavera é uma estação importante para o paisagismo porque marca o início de um novo ciclo das espécies. Após o inverno, a primavera muda a estética do jardim não apenas pelas flores, mas também pelo surgimento de novas brotações em plantas que perderam as folhas no inverno. Esse renascimento é um elemento muito significativo. Em termos de espécies subestimadas, eu não usaria esse termo, porque na natureza não há algo melhor ou pior. A primavera traz de volta o valor das espécies que perderam suas folhas, mostrando sua beleza renovada.
Com o aumento das discussões sobre sustentabilidade, como podemos equilibrar a estética primaveril com práticas ambientalmente responsáveis nos projetos? Existe uma tendência de “paisagismo ecológico de primavera” que você enxerga ganhando força?
O paisagismo já é, por si só, uma prática sustentável, pois promovemos o plantio de espécies. No entanto, na execução e manutenção dos jardins, há práticas ainda mais sustentáveis, como o uso de folhagens caídas para fazer compostagem. Esse processo evita a necessidade de adubação industrial ou mecânica, tornando o cuidado do jardim muito mais ecológico.
A primavera costuma inspirar poesia e arte. Como você, como paisagista, utiliza elementos do design para despertar emoções específicas em quem vivencia um espaço ao ar livre durante essa estação?
Nosso estúdio de paisagismo vai além da escolha das plantas; desenvolvemos todos os elementos construtivos do jardim, como pisos, escadas, muros, gazebos, piscinas e mobiliário. Tudo isso contribui para criar um design que valoriza o espaço de maneira coerente e assertiva, resultando em projetos com personalidade e uma estética marcante.
Vivemos em um momento de conexões mais rápidas com a natureza, seja em jardins urbanos ou até em pequenos vasos dentro de casa. Quais são suas dicas para trazer a essência da primavera para espaços menores e mais urbanos?
A pandemia nos fez desacelerar e refletir sobre a simplicidade da natureza. No pós-pandemia, aceleramos novamente, mas o papel do paisagismo é lembrar as pessoas da importância de se reconectar com a natureza, mesmo em pequenos espaços. Eu gosto de falar sobre a prática de “usar a lupa” – quanto mais você observa a natureza de perto, mais detalhes percebe. Mesmo um simples vaso sobre a mesa pode nos lembrar de nossa conexão com a natureza. Nós, paisagistas, incentivamos essa relação plena, independentemente do tamanho do espaço.
Se você pudesse criar uma ‘primavera ideal’, sem qualquer limitação de recursos, tempo ou espaço, como ela seria? Existe algum projeto dos sonhos ou conceito que você gostaria de explorar nesse sentido?
A beleza do nosso trabalho é que não existe um “ideal” geral. O ideal é o que é melhor para cada indivíduo. Nosso papel é personalizar o jardim para o cliente, entendendo seu perfil e suas preferências estéticas, criando um microclima que atenda suas necessidades. Assim como na relação entre fauna e flora, buscamos criar um ambiente em que o cliente possa usufruir plenamente do espaço.