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Design inclusivo e regenerativo molda espaços para um futuro plural

Conceitos da neuroarquitetura transformam ambientes em aliados da saúde física e emocional de idosos e neurodivergentes 

A interseção entre neurociência e arquitetura está redefinindo a maneira como projetamos os espaços em que vivemos, trabalhamos e convivemos. A neuroarquitetura, campo que investiga como os ambientes afetam o cérebro humano, vem ganhando destaque ao incorporar princípios do design inclusivo e regenerativo. O objetivo não é apenas acolher as diferenças, sejam elas relacionadas ao envelhecimento ou à neurodiversidade, mas promover saúde, conforto, autonomia e bem-estar para todos os usuários. Estamos falando de uma mudança de paradigma no modo de conceber os espaços, baseada em evidências científicas que revelam como cores, texturas, iluminação e disposição influenciam a cognição, as emoções e até a saúde física.

Nesse contexto, idosos e pessoas neurodivergentes ganham protagonismo. Condições como Transtorno do Espectro Autista, TDAH, dislexia, ansiedade ou depressão implicam necessidades sensoriais específicas, que podem ser atendidas por ambientes silenciosos, visualmente organizados, com áreas de escape ou de estímulo. Para indivíduos com TEA, por exemplo, a redução de ruídos, o controle de luminosidade e a previsibilidade espacial são aspectos centrais. Já para pessoas com TDAH, espaços que permitem o movimento e reduzem estímulos dispersivos podem contribuir para concentração e regulação emocional. As diretrizes de Magda Mostafa para o design aplicado ao autismo são referência nesse sentido, propondo soluções práticas desde a fase inicial do projeto.

Para a população idosa, os conceitos de Aging-Design e Gero-Design oferecem respostas às mudanças físicas e cognitivas que acompanham o envelhecimento. Projetar com base nessas abordagens significa considerar pisos antiderrapantes, ausência de desníveis, conforto acústico, iluminação difusa e elementos que favoreçam a orientação espacial. Mas vai além: trata-se de criar lugares que estimulem o convívio, evitem o isolamento e garantem o sentimento de pertencimento. Estudos como os de Jon Pynoos, professor da Fundação UPS na Escola de Gerontologia Leonard Davis da Universidade do Sagrado Coração, e Edward Steinfeld, professor da Escola de Arquitetura e Planejamento da Universidade de Buffalo, SUNY (Universidade Estadual de Nova York), mostram que pequenas adaptações no ambiente doméstico, por exemplo, podem permitir que idosos permaneçam em suas casas por mais tempo, com segurança e dignidade.

A qualidade de vida nesses espaços também está atrelada ao design biofílico, que reforça a conexão com a natureza como um elemento vital à saúde. Jardins internos, ventilação cruzada, vistas para o verde e uso de materiais naturais contribuem para a redução do estresse e da ansiedade, benefícios particularmente importantes para quem enfrenta perdas cognitivas ou sensoriais. Esther Sternberg, professora de medicina e pesquisadora canadense, em suas pesquisas sobre ambientes curativos, reforça que a arquitetura pode atuar como promotora da saúde, interferindo positivamente no sistema imunológico, no humor e no comportamento.

Ao ampliar a discussão para o design regenerativo, a proposta se expande. Não basta criar espaços que não causem danos. É preciso que eles gerem impactos positivos para o indivíduo, para a comunidade e para o planeta. Isso implica uma visão integrada de projeto, onde a inclusão é tratada não como exceção, mas como base. A arquitetura deixa de ser apenas uma resposta formal a demandas funcionais e passa a ser ferramenta de transformação social, capaz de restaurar vínculos, acolher diferenças e, sobretudo, regenerar relações com o espaço, com os outros e consigo mesmo.

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