Com desenhos etéreos e um olhar afiado, Koketit eleva a arte a novos territórios, onde superfície e imaginação mergulham juntas
Há algo profundamente poético na forma como Shira Barzilay enxerga o mundo. Conhecida pelo nome artístico Koketit, a artista israelense é mestre em transformar o invisível em gesto, o vago em linha, o comum em surpresa. Seu traço fino, muitas vezes monocromático e de uma delicadeza quase líquida, parece sussurrar sentimentos antes mesmo que possamos nomeá-los, algo que pode justificar como a fluidez de sua obra já conquistou o mundo digital, com mais de 600 mil seguidores no Instagram. Agora ela salta da tela para ocupar superfícies cada vez mais ousadas e inesperadas.
Recentemente, Koketit viralizou ao levar sua arte para piscinas. Sim, piscinas. Um espaço geralmente funcional e decorativo passou a ser também contemplativo, envolvido por curvas e rostos flutuantes que parecem respirar junto com a água. O movimento da superfície se torna parte da obra e a experiência estética se amplia em todas as direções,.
Por trás dessa leveza aparente, há um olhar firme sobre o que é fazer arte hoje em dia, que basicamente significa um misto de liberdade criativa, inovação tecnológica, colaborações técnicas e a recusa em se limitar a molduras, suportes ou definições. Koketit vê o mundo como uma tela em branco. E nos lembra, com elegância, que tudo pode ser recomeço.
Em entrevista exclusiva ao Blog da Bossa Nova Sotheby’s, ela compartilha as ideias por trás de seus processos criativos, as memórias que moldaram seu imaginário e sua visão sobre o futuro da arte que, segundo ela, está mais fluido e colaborativo do que nunca.
BNSIR: O que te atrai em trabalhar com superfícies não convencionais, como piscinas?
Koketit: Meu lema é “o mundo é a minha tela”. Toda a minha filosofia artística gira em torno de encontrar arte em qualquer lugar. Então, quanto mais incomum, melhor. Tenho uma fascinação por piscinas desde a infância. Quando moramos na África do Sul por quatro anos, tivemos a sorte de ter uma piscina em casa e foi maravilhoso. Algumas das minhas melhores lembranças vêm dessa época. As piscinas, para mim, estão associadas ao amor e à felicidade, então faz todo sentido que eu as tenha transformado em telas.
BNSIR: Como o ambiente aquático influencia seu processo criativo e suas escolhas artísticas?
Koketit: A água funciona como uma lente, um filtro muito interessante. Você pode apreciar a obra de cima, com os efeitos dos reflexos, das ondulações ou do ângulo do sol. Ou pode mergulhar e curtir a arte submersa, naquele silêncio tranquilo que só existe debaixo d’água. Não sinto que estou “desenhando”, é mais uma forma de me expressar artisticamente sobre uma superfície que, por acaso, é o fundo de uma piscina.
BNSIR: Muitos dos seus trabalhos evocam emoções intensas por meio de esculturas e pinturas. Como você traduz esse sentimento para um suporte de grande escala, como os azulejos?
Koketit: Existe uma grande diferença entre criar digitalmente e fisicamente e essa transição de um meio para o outro exige uma mudança de perspectiva. Isso pode ser desafiador, porque envolve um conjunto de habilidades completamente diferente. Quando estou trabalhando em uma piscina, felizmente conto com parceiros incríveis, mestres em fabricação e instalação, são eles que transformam minha visão em realidade. É saber escolher o azulejo certo e entender todos os detalhes técnicos que só os especialistas em piscinas dominam. Eu não finjo saber e é por isso que a colaboração é tão poderosa. Cada um traz o seu shtik para a mesa.
BNSIR: O que você acha que essa intersecção entre arte, arquitetura e funcionalidade revela sobre o futuro dos espaços privados?
Koketit: Acho que, com o uso da inteligência artificial, vamos ver ainda mais explosões de criatividade e novas possibilidades surgindo. Essas ferramentas estão realmente ajudando a expandir os limites do que podemos fazer e eu, particularmente, estou empolgada com isso.
Acredito que a mente e a alma humanas nunca serão substituídas, mas quando uma alma humana usa ferramentas de IA para criar? É o melhor dos dois mundos.
