Estranhamento é uma sensação que muitas obras contemporâneas causam no espectador. Talvez seja, justamente, este tipo de impacto que o artista queira provocar, na verdade. No caso de Tunga, do início de sua carreira até sua morte, em julho do ano passado, aos 64 anos, sua obra convoca o observador a reagir de qualquer forma, no impulso de se aproximar ou se afastar.
Tunga, Vê-nus, 1976. Borracha, corrente de ferro e energia elétrica, 150 x 250 x 190 cm. Acervo Tunga, Rio de Janeiro. Crédito: Doug Baz.
O MASP (Museu de Arte de São Paulo) encerra o ciclo de exposições sobre o tema da sexualidade com esta mostra. Muitos conhecem a Galeria Psicoativa Tunga, em Inhotim, e agora têm uma oportunidade de mergulhar no conjunto de sua obra: instalações, objetos, desenhos, gravuras e aquarelas. São 86 obras que percorrem quase todas as suas fases.
Artista multidisciplinar, Tunga (Antonio José de Barros Carvalho e Mello Mourão), nasceu em Palmares, Pernambuco. Viveu no Rio de Janeiro e em Valparaíso, no Chile, durante o período da ditadura, e morou em Paris. Filho de Léa de Barros e do jornalista e poeta Gerardo Mello Mourão teve a oportunidade de conviver com intelectuais brasileiros e franceses, que frequentavam a casa de seus pais.
Tunga estabelece relações entre corpos, matérias e linguagens, utiliza metáforas de masculino e feminino. Concretiza seus conceitos intelectualizados explorando as possibilidades de distintos materiais como o bronze, o cobre, o latão, a madeira, o papel, a resina e a borracha. Nas imagens que cria surgem “tranças”, “cabelos”, “pentes” e “tacapes” que são recorrentes.
Tunga, Lezart, 1989 – 2012 Cobre, aço, imã, 50 x 35 x 75 cm. Acervo Tunga, Rio de Janeiro. Crédito: Gabi Carrera.
Tunga participou de diversas exposições coletivas e Bienais em todo o mundo, incluindo o Museu de Arte Moderna, em Varsóvia, na Polônia (2017); Bienal de São Paulo, SP (1981, 1987, 1994, 1998 e 2013); Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, em Madri, na Espanha (2001); e Guggenheim Museum, em Nova York, nos Estados Unidos (2001). Catherine Lampert foi curadora de uma das exposições de Tunga, em 1889, na Whitechapel Gallery, em Londres, na Inglaterra, e, neste ano, vai lançar um livro sobre ele.
Tunga, sem título, 2014, da série Morfológicas. Bronze com pátina prata 50 x 70 x 86 cm. Crédito: divulgação
Sexualidade e erotismo são temas centrais em sua obra, desde a primeira exposição individual intitulada Museu da Masturbação Infantil, no Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, em 1974, até seu projeto inacabado de esculturas.
Algumas destas peças foram expostas em novembro de 2017 na Galeria Millan, em São Paulo/SP, como as esculturas orgânicas da série Morfológicas, presentes no MASP. Embora seja “proibido tocar”, diante destes últimos trabalhos estranho é resistir à tentação de não querer colocar a mão no corpo da escultura e “buscar algum encaixe com nosso próprio corpo”.
Elisabeth Leone – Prof. Dra Comunicação e Semiótica
@elisabethleone
Tunga: O Corpo em Obras
Museu de Arte de São Paulo – MASP
Av. Paulista, 1.578 – São Paulo\SP
3ª a dom., 10h/18h. R$ 30,00. Livre.
Até 11/03/2018