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A sabedoria para se viver em um mundo binário

Vivemos tempos de opiniões extremadas, como se não existisse o meio-termo, como se não existissem pluralidades. Ou a pessoa é de direita ou é de esquerda, a favor do movimento feminista ou contra, defende a nudez nos museus de arte ou a ataca. As pessoas adotam um polo e não toleram o outro. Um mundo binário em que só existem o certo e o errado, o bem e o mal, o sim e o não. O fenômeno é novo ou foi apenas potencializado pelo uso das redes sociais, ambiente em que tal oposição é mais nítida?

Consultora em comunicação, sobretudo crises de comunicação, a jornalista Olga Curado explica que bem e mal são arquétipos universais e atemporais. Na base das religiões, lá está a virtude em oposição ao vício. Nas narrativas épicas, há os heróis e os vilões. “O que acaba definindo o que é o bem e o que é o mal, o certo e o errado, é a perspectiva de cada pessoa ou cada grupo. É uma percepção do ego: eu acho que o meu lado é o certo e o seu é o errado”, explica Olga. Damos um valor excessivo ao que nos separa.

 

“Como as redes sociais são o espaço da exposição dos egos, fica mais evidente a polarização nelas, mas a polarização tende a permear todas as relações sociais e políticas, e depende também do nível de amadurecimento das pessoas, das instituições e dos governos”, diz a consultora. Amadurecimento é dar uma importância maior àquilo que nos une e não ao que nos diferencia, ainda que tenhamos discordâncias.

 

O mundo ou o Brasil que vivemos é cheio de pluralidades, de modos de pensar a relacionamentos. O problema é a tolerância a esta pluralidade. Segundo Olga Curado, o momento histórico é decisivo na definição do comportamento das pessoas quanto à aceitação das diferenças. Cada sociedade em seu tempo vai dar uma resposta e isso depende muito do seu estágio de civilização e das tensões políticas existentes.

“Na Idade Média, as mulheres que tinham habilidades de cura eram identificadas como bruxas e queimadas na fogueira, porque desafiavam o status da Igreja de poder absoluto de todas as redenções”, exemplifica Olga. Vai além: na Grécia Antiga, a homossexualidade masculina era louvada, e na Rússia de hoje é quase um crime. Como explicar isso? “A Rússia é uma nação que foi construída pelo conflito, pelas guerras, o poder bruto e a resistência física eram essenciais. É um estereótipo masculino que ajuda a explicar alguma coisa”, complementa. Olga defende a importância de olharmos os fatos por trás dos comportamentos. Porque sempre há fatos.

 

“A tecnologia da informação facilita a exposição da pluralidade, mas não garante a tolerância. Hoje, falamos mais abertamente, mas não significa que aceitemos mais as diferenças. Mas falar sobre elas já é o primeiro passo do aprendizado”, ensina.

 

Ela lembra também que a dicotomia do certo versus o errado é a maneira mais fácil de relacionamento. A “zona cinza” exige flexibilidade, atenção, ausência de julgamento, empatia. “Se não deixarmos nossa posição atual para enxergar o mundo a partir de outras perspectivas, estaremos condenados a excluir de nossas vidas tudo aquilo que é diferente do que somos ou gostamos”, ressalta.

 

Olga sugere um pouco de antropologia à nossa vida. “Assim, entenderemos, por exemplo, que nem todo mundo acha legal ou necessário ter um celular. Há tribos que valorizam muito mais as mensagens das estrelas do que as mensagens do WhatsApp”.

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